Redes de restaurantes voltam a expandir, após pandemia

Redes de restaurantes voltam a expandir, após pandemia

Redes de bares e restaurantes estão expandindo no país, enquanto empresas do setor ainda enfrentam dificuldades na operação - incluindo importantes marcas, como Subway e Starbucks, da gestora SouthRock. O movimento, que contempla grupos regionais e nacionais, soma investimentos da ordem de R$ 140 milhões, resultando em cerca de 80 novas unidades pelo país.

O grupo Alife Nino, por trás do Nino Cucina, Boteco Boa Praça e Tatu Bola, que tem a XP Investimentos como investidor, planeja 20 aberturas, priorizando restaurantes em shoppings centers. Já a Companhia Tradicional do Comércio, dona da pizzaria Bráz, Pirajá e outras dez marcas, pretende abrir cerca de 6 novas lojas, a maioria na capital paulista.

A joint venture formada pelas empresas Antaris Franchising e Foods Brands, que opera 12 marcas incluindo a hamburgueria Johnny Rockets, prevê 25 novos pontos até o fim do ano. Dos “players” multinacionais, os projetos de expansão da Taco Bell e da Bloomin’ Brands Brasil, que controla o Outback, somam R$ 136 milhões para 55 novas unidades.

O segmento de cozinha autoral terá uma nova marca, o “A Brasileira”, empreitada de Janaína Torres, eleita este ano a melhor chef mulher do mundo pelo 50 Best, prestigiado ranking da gastronomia. Ela conta que o empreendimento será focado na comida brasileira com pratos inspirados em todas as regiões do país. Fruto de um investimento de R$ 5 milhões, a inauguração do novo espaço está prevista para 2025.

O local certo ainda não foi definido, mas a chef conta que será no centro de São Paulo, onde estão localizados todos os outros cinco estabelecimentos comandados por ela, ao lado de seus dois sócios, incluindo os renomados O Bar da Dona Onça e A Casa do Porco. Apesar do sucesso, Torres diz que ainda não tem planos de expansão com os negócios atuais. Sobre a possibilidade de se juntar a um grande grupo, a chef afirma que está aberta a negociações que possam agregar ao negócio no futuro.

Quem já optou por esse caminho foram os grupos Alife, dono dos bares Eu Tu Eles, Boa Praça e Tatu Bola, e o Nino, responsável por restaurantes como o Nino Cucina, que em 2019 se juntaram para formar o Alife-Nino. Dois anos depois, no auge da pandemia, o grupo recebeu um aporte de R$ 100 milhões do private equity da XP com o objetivo de acelerar a expansão do negócio.

“Quando entramos era uma rede de São Paulo e Rio de Janeiro que tinha cerca de 25 unidades. Hoje em dia estamos com 60 casas em 10 Estados”, afirma Fábio Khan, sócio e diretor dos fundos de private equity da XP Asset. Nessa conta também estão incluídos os estabelecimentos do Grupo Irajá, dono de bares como Princesa e Rainha, adquirido pela Alife Nino em abril deste ano.

Para 2024, o grupo pretende abrir 20 novas casas, com foco em restaurantes localizados dentro de shoppings centers, como o Nineto. O faturamento esperado no ano é de R$ 700 milhões, um crescimento de 40% em relação ao ano passado. No que diz respeito ao plano da Alife Nino de abrir capital na bolsa, Khan afirma que continua alinhado com o timing da saída fundo, que pode acontecer em um horizonte de dois anos.

Outro grupo que pretende voltar a expandir em um ritmo que considera “saudável” é a Companhia Tradicional do Comércio. Com quase 30 anos de existência, a empresa opera 52 estabelecimentos das dez marcas próprias, incluindo Bar Original, Pirajá, Astor, Bráz, Ici Brasserie e Lanchonete da Cidade. A maior parte das casas está localizada em São Paulo, onde o grupo é sediado, mas há unidades em Campinas, interior de São Paulo, e Rio de Janeiro.

Além de duas casas que já foram abertas no início do ano, estão previstas outras quatro inaugurações para os próximos meses, a maioria na capital paulista. Segundo João Adas, presidente da empresa, o plano é abrir algo entre 15 e 20 lojas nos próximos três anos, totalizando 70 unidades até 2026.

Questionado sobre novos endereços, o executivo diz que não faz parte da estratégia pulverizar em muitas cidades ou locais distantes, pois isso aumentaria a complexidade da gestão. Mas não descarta a possibilidade de entrar em novos mercados futuramente, como Belo Horizonte, Brasília e outros municípios do interior de São Paulo. “Posso me utilizar da vantagem de ter várias marcar para quando escolher uma ou duas novas regiões eu me aproveitar disso”, diz.

Diante de um mercado competitivo, um portfólio robusto e diverso tende a ser um diferencial. Pensando nisso, e no ganho de escala, as marcas Antaris Franchising e Foods Brands uniram forças e assinaram um contrato de joint venture. Juntas, as empresas operam um portfólio de 12 marcas de culinárias diversas, incluindo a hamburgueria Johnny Rockets.



"A recuperação do foodservice passa por crescimento consistente da economia brasileira”

Atualmente são 125 lojas franqueadas e o objetivo é encerrar o ano com 150 unidades em 11 Estados, e faturamento de R$ 250 milhões anuais. Antônio Augusto, sócio da Antaris Foods Brands Franchising, afirma que, além da expansão das marcas atuais, faz parte da estratégia trazer novas marcas com potencial de crescimento.

A expansão não é exclusiva de “players” nacionais. A Bloomin’ Brands Brasil vai investir R$ 100 milhões para abrir 18 novas unidades do Outback - considerando 8 que já foram inauguradas. O foco é fortalecer a presença em cidades que a rede ainda não está presente, principalmente na Nordeste, explica o presidente Mauro Guardanabassi. Também está previsto um novo restaurante Abbraccio em Sorocaba, no interior de São Paulo.

Já a Taco Bell, inspirada na culinária mexicana, deve inaugurar 15 lojas este ano com um investimento de R$ 36 milhões. A companhia informou que pretende chegar em 2030 com 200 lojas no país.

Esse movimento contrasta com a realidade de outras empresas que ainda enfrentam dificuldade para recuperar o desempenho da operação desde a pandemia. O endividamento resultante do período continua sendo um dos principais desafios para boa parte do setor. Segundo dados da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), 31% das empresas operaram no vermelho em fevereiro deste ano.

O impacto é maior em empreendimentos de pequeno e médio porte, mas grandes companhias não saíram ilesas - foi o caso de Starbucks e Subway, controladas pela gestora SouthRock Capital. Ambas entraram com pedido de recuperação judicial para suas operações no Brasil. Além da baixa lucratividade decorrente do fechamento temporário na pandemia, as empresas citam a impossibilidade de obtenção de novas linhas de crédito e um “excesso de endividamento” como justificativas do pedido.

Para Angelo Guerra Netto, sócio da EXM Partners, o agravante nesse caso foi a demora da gestão em buscar soluções de reestruturação para o negócio, como um possível M&A (fusão e aquisição, na sigla em inglês) de marcas ou eventual alongamento de dívida. “Poderiam ter desmobilizado algum ativo antes”, avalia.

Além das dívidas, o reajuste dos cardápios pela inflação também é um gargalo do setor. De acordo com a Abrasel, apenas 9% dos estabelecimentos informam que conseguiram fazer o reajuste acima do índice. O acumulado do IPCA da alimentação fora do domicílio entre 2019 e 2023 foi 31,87%, segundo levantamento feito pelo Valor Data.

“O repasse aconteceu, mas quando você puxa desde a pandemia não foi possível efetuar o reajuste total dentro dos cardápios, então as margens foram comprimidas”, diz João Adas.

Segundo o executivo, este será um ano de repasses mais contidos, assim como em 2023, uma vez que o mercado ainda não está pujante.

Do lado da demanda, Ingrid Devisate, vice-presidente executiva do Instituto Foodservice Brasil (IFB), afirma que apesar da retomada nos últimos anos o orçamento apertado das famílias ainda é o principal entrave para o consumo fora do lar. “A recuperação efetiva do ‘foodservice’ brasileiro passa por crescimento consistente da economia brasileira, permitindo ganhos reais na renda das famílias”, afirma.

Fonte: Valor Econômico

Compartilhe:

Escritórios

Nossa sede localiza-se em São Paulo, na JK, bem ao lado do Eataly. Boa parte do nosso staff está baseado em Ribeirão Preto, interior do Estado, região onde começamos a nossa história.